Durante muito tempo, a palavra pertencia aos homens brancos: a eles cabia descrever e definir o mundo por semelhança ou oposição a si mesmos.
Nas últimas décadas, leitores e teóricos começaram a perceber que precisamos de mais perspectivas, outras formas de viver e escrever. Precisamos ler mulheres pretas, conhecer suas obras e suas lutas, combater o silenciamento e o apagamento histórico. Aqui estão 10 escritoras pretas que você precisa conhecer:
- Maria Firmina dos Reis (1822 — 1917) Maria Firmina dos Reis, escritora do Maranhão, se tornou a primeira romancista brasileira com a publicação de Úrsula (1859), quando a impressão de livros ainda era escassa.
A obra, centrada no romance entre a protagonista Úrsula e o bacharel Tancredo, se destacou ao descrever os cotidianos dos escravos, dos negros e das mulheres. Denunciando as práticas de uma sociedade atravessada por injustiças e opressões, o livro é considerado precursor do abolicionismo e uma das obras fundadoras da literatura afro-brasileira.
Recentemente, com o centenário da morte de Maria Firmina dos Reis, várias reedições de suas obras foram feitas, juntamente com eventos e homenagens à autora.
- Carolina Maria de Jesus (1914 — 1977) Carolina Maria de Jesus foi uma das maiores escritoras nacionais e uma das primeiras autoras pretas brasileiras.
Mãe solteira, catadora de papéis e moradora da favela do Canindé, em São Paulo, escreveu cerca de 20 diários relatando suas condições e experiências de vida. Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960) é um marco de representatividade, com uma autora que escreve sobre e a partir do contexto social em que vive.
Seus escritos comentam o fosso que separa os cidadãos de um mesmo país, dependendo da cor da pele e do local de nascimento.
- Conceição Evaristo (1946) Conceição Evaristo é uma das maiores autoras nacionais afro-brasileiras, membro da Academia Brasileira de Letras. Suas obras de poesia, ficção e ensaio valorizam a cultura preta e analisam o panorama social brasileiro.
Ponciá Vicêncio (2003), uma de suas obras mais célebres, acompanha a vida da protagonista descendente de escravos do meio rural até a periferia urbana, propondo reflexões sobre herança de exclusão e marginalização.
- Djamila Ribeiro (1980) Djamila Ribeiro é uma escritora, acadêmica, filósofa e ativista brasileira. Notória por suas contribuições aos movimentos sociais que lutam pelos direitos das mulheres e dos cidadãos negros, Djamila defende a necessidade de múltiplas vozes e histórias em nossa cultura. Em O que é lugar de fala? (2017), ela chama a atenção para o silenciamento a que algumas camadas da sociedade estão submetidas.
- Mel Duarte (1988) Mel Duarte é uma poeta brasileira, vencedora do campeonato internacional de poesia Rio Poetry Slam (2016) e uma das organizadoras do Slam das Minas em São Paulo. Em Negra Nua Crua (2016), sua poesia aborda temas como machismo e racismo institucionais. Mel afirma que seu objetivo é comunicar com a juventude, passando mensagens de empoderamento.
- Ryane Leão (1989) Ryane Leão é uma poeta, professora e ativista brasileira, célebre pela publicação de seus textos no Facebook e na conta do Instagram @ondejazzmeucoracao. Em 2017, lançou Tudo Nela Brilha e Queima, livro com poemas de luta e amor. Sua poesia incentiva o amor próprio e a autoaceitação, comunicando com outras mulheres.
- Paulina Chiziane (1955) Paulina Chiziane é uma escritora moçambicana, a primeira mulher a publicar um romance no seu país com Balada de Amor ao Vento (1990). Suas obras literárias se centram no contexto social, político e cultural de Moçambique. Em Niketche (2002), um de seus livros mais famosos, aborda a poligamia e as identidades femininas na sociedade.
- Noémia de Sousa (1926 — 2002) Noémia de Sousa foi uma poeta, jornalista, tradutora e militante moçambicana, lembrada como a “mãe dos poetas moçambicanos”. Seus versos espelham a revolta e os protestos de um povo colonizado, demonstrando uma forte consciência social e desejo de liberdade. A antologia Sangue Negro reúne sua poesia entre 1949 e 1951.
- Alice Walker (1944) Alice Walker é uma escritora e poeta norte-americana, ativista pelos direitos civis. A Cor Púrpura (1983) é sua obra mais famosa, um romance epistolar que narra a vida de Celie, uma mulher preta no sul dos EUA nos anos 30.
O livro aborda temas de abuso, racismo e opressão, utilizando uma linguagem próxima da oralidade.
- Maya Angelou (1928 — 2014) Maya Angelou foi uma notória escritora, poeta e ativista norte-americana. Sua obra literária é vasta, incluindo sete autobiografias. Eu sei porque o pássaro canta na gaiola (1969) reflete sobre sua infância e adolescência, abordando temas como identidade, racismo e machismo. Maya Angelou é um ícone de poder e resistência negra.
Essas autoras, cada uma com sua voz única, nos oferecem um vislumbre de suas experiências e lutas, enriquecendo a literatura com suas perspectivas. Ao ler suas obras, ampliamos nossa compreensão do mundo e das diversas formas de ser e existir.